sábado, dezembro 27, 2008

Num tempo só


Num tempo só
Juntam-se céu e terra,
Que de desespero parecem um.
Num só tempo fala e sonho é coisa só.

Num só tempo,
As mãos são pequenas demais,
Para tocar o íntimo necessário.
E a boca é vã em demasia,
Pra calar toda a angústia contida
Em seu corpo.

Num só tempo.
Vejo-me em amplo pasto.
De caminho largo
Com o mudo à minha frente.
Mas sem tempo
E só।


Por Marighetti

quinta-feira, novembro 20, 2008


Quanto de mim
Perdido na própria vastidão do meu ser
Procura caminhos improváveis
Numa solidão puramente concreta
Representada por você


Marighetti

quinta-feira, outubro 09, 2008

Procuro-me


Sem mais nenhum critério
Busco sentir conforto qualquer
Desvendando o seu mistério
Nesse corpo que me quer.

Sem nenhuma vaidade
Percorro todos os seus cantos
Nessa enorme variedade
De segredos.

Com tamanha ansiedade
Beijo a boca sua
Como jovem de pequena idade
Deflora uma flor nua
À procura de si mesmo।


Marighetti

Canção

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas

Cecília Meireles

quarta-feira, outubro 08, 2008

O enterrado vivo

É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.

É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.

É sempre no meu trato o amplo distrato.
Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano outro retrato.

É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.

Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência।


Drummond

terça-feira, outubro 07, 2008


Por detrás da alma sua
Vejo uma flor inteira
E que de beleza nua
Inunda-me de sentido.

Quem dera


Quem dera você ouvisse
Não minha boca, mera convenção,
Mas minha alma de sentidos
Que fala do alto dessa sensação
De uma derrota definitiva e mortal

Quem dera você olhasse
Não meu contorno, nem silhueta.
Pois isso é mostra para o mundo
Cheio de fantasias vãs e padrões corporais
Pobres em espírito e vazios de sentido.
Mas que você olhasse para o que sou
O que me fez a caminhada longa
O que me tornaram as tantas lágrimas sentidas.

Olhe em meus olhos
E não veja um homem, tão pouco assim.
Veja uma história que se renova a cada dia viva
Que corre pelas veias
E que é o próprio sentido da palavra verdade.

Saiba sou eu a vida
Vida vivida, respirada, degustada, adormecida e amanhecida
Que insistiu em não ver।


Marighetti

domingo, agosto 17, 2008

Apenas um instante


Num instante
O solavanco saí do meu avesso
E transforma o que era medo
Em um fazer travesso
Transformando as horas em enredo.

Num instante
O que me era só um jeito
Passa a ser minha vontade
E explode mil fagulhas no meu peito
Vaidade, mistério, segredo e ansiedade.

Num instante
Era simples o tocar de suas mãos
Mas repentinamente sinto enormemente
Que quero procurar tudo
Tudo profundamente.

Num instante
A boca eram só palavras
Que ecoam simples
Mas de repente, de gesto em gesto
Descubro-me em você
Uma nova esfera de mim

Num instante
Era tão desconhecido
Mas agora, no calor da hora
Sei tudo o que queria
E que me basta.

Num instante
Minha vida que era simples
De um viver de cada dia
Tornou-se uma coisa densa
De uma vida que não é mais minha.



Por Marighetti

Outras Coisas

Encontro meus longos passos
Em cada verso colorido
Que juntos amarram como laços
Minha vida parca.

Meu passado
Ecoa presente nas vozes que ouço
E naquilo que vejo à distância
Mas que cortam minha pele
E me arrancam do meu corpo.

Vez ou outra eu sou,
Em resumo sintético
Um desenho abstrato
Pintado de cor marrom
E esquecido no fundo do armário



Por Marighetti

sábado, agosto 16, 2008

Lágrimas de Pedra


Dos meus braços
Sinto o peso dessa modernidade:
fantasia, individualismo e futilidade.
Dos meus olhos brotam
lágrimas de pedra
que reúno para construir um mundo novo.



Por Marighetti

domingo, agosto 10, 2008

O melhor de mim mesmo


O melhor de mim
É um banco vazio
Onde se senta ao retorno.
O melhor de mim
Nada é de especial
Nem surpreendente, nem sensual,
Pois o melhor de mim sou eu mesmo
Que é aquilo que te dou todo dia
E que usa só quando deseja.



Por Luiz Roberto Marighetti